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O forte coração

Marcos Vieira, 68, conhece todas as ruas de Jaraguá do Sul, ajudou centenas de pessoas a chegarem a seus destinos, ouviu muitas histórias nos seus 40 anos de taxista, mas nunca imaginou que precisaria de alguém para mudar o seu destino.

Em 2006, o aposentado que sofria de uma insuficiência cardíaca, causada por uma herança genética, teve que colocar um marca-passo para continuar com a rotina. A vida prosseguiu tranquilamente, até 2013, quando começou a perceber que as coisas não estavam tão bem.

Depois de uma série de exames foi constatado que o coração estava dilatado e não conseguia mais bombear o sangue como deveria, e a única solução era o transplante. “Os próprios médicos não me davam muito tempo de vida, eu estava na fila de espera em situação de emergência”, relembra. A rotina da família mudou completamente. Marcos passava, no máximo, dois dias em casa e voltava para o Hospital Angelina Caron, em Curitiba, no Paraná, onde todo o tratamento foi feito.

Na noite de 26 de setembro de 2013, ainda no hospital, a situação era crítica, e uma “conversa” com o pai - que faleceu há dez anos também de problemas cardíacos - pediu que intercedesse por ele, pois a situação já era quase insuportável. Poucas horas depois a esperança de uma nova vida chegou, e é vista pela família Vieira como um milagre divino. “A enfermeira entrou no quarto que eu estava com minha esposa, me acordou e disse que tinha um coração pra mim”, conta emocionado.

Marcos foi encaminhado para a sala cirúrgica, mas não sem antes avisar toda a família. “Liguei para meu irmão e disse: ‘Vou receber um coração!’”, lembra. Assim como qualquer cirurgia, Marcos corria riscos, mas tudo ocorreu bem, e depois de algumas horas ele já estava no quarto de recuperação. Não poderia ter sido um dia melhor, ele lembrou que o coração que salvou sua vida chegou no mesmo dia que marcava dez anos do falecimento do seu pai. “E bem naquela noite quando eu recebi o coração, exatamente no dia de aniversário de falecimento do meu pai, eu soube que ainda iria viver muito”, comenta.

Por questões éticas e de legislação da Saúde, o receptor não sabe quem foi o doador e, nem mesmo a família do doador sabe para onde e quem foram os órgãos doados. Porém, Marcos tem uma sobrinha enfermeira que trabalha em um Hospital de Curitiba, de onde veio o coração. Depois de uma pesquisa, soube que o órgão era de um enfermeiro de 28 anos, que morreu após sofrer uma grave queda. Meses mais tarde, uma das filhas de Marcos entrou em contato com a esposa do enfermeiro, momento em que toda a família pôde agradecer pelo gesto de amor.

Hoje, recuperado e renovado, Marcos precisa tomar diversos remédios todos os dias para que o novo coração não seja rejeitado pelo corpo. “Os medicamentos são muito caros, mas graças a Deus conseguimos todos eles pela saúde pública. Desde o transplante, só uma vez fiquei sem um medicamento por erro do carimbo”, conta.

Foto: Gabriela Bubniak

O carinho da família é fundamental para uma boa recuperação e a família Vieira é prova disso. A esposa de Marcos, Nilza Vieira, esteve ao lado do marido em todos os momentos e nunca deixou que a tristeza ou a falta de fé abalasse a família. “Ela foi meu porto seguro, esteve ao meu lado, me ajudou e cuidou de mim e de todos. Achei que meu novo coração jovem me apaixonaria por outra moça, mas quando vi a Nilza, o coração bateu mais forte, é a certeza que sempre foi dela!”, brinca.

Três anos depois do transplante, o homem que afirmava que nunca doaria um órgão, tem outra consciência. Tornou-se uma pessoa ainda melhor e disposta a ensinar aos netos, que ainda são pequenos, os valores da vida e o amor ao próximo. Hoje ele continua a sua vida feliz, com o coração de outra pessoa batendo no seu peito, através de um ato de amor. E o pedido para toda a família e amigos é: “Seja um doador!”

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